Detlef Steffenhagen

As "Quatro Estações" de Antonio Vivaldi pela primeira vez em órgão


A transcrição de Vivaldi´s "Quatro Estações" por mim elaborada é pelo meu conheçimento, a primeira, e até agora única edição completa de órgão desta obra famosa.

É impressionante também, porque transcrições, principalmente de violinos para orgão, terem já uma longa tradição.

Ninguem inferior a Johann Sebastian Bach (1685-1750) elaborou provavelmente em 1714 em Weimar varias transcrições de órgão e cravo de concertos de Vivaldi.

Bach encontrava-se de certa maneira numa competição creativa com Johann Gottfried Walther (1690-1758) na transmissão dos mais recentes "Concerti de maneira Italiana" para órgão.

Podemos concluir, que um músico como Bach, que sempre se mostrou interessado na música dos seus contemporâneos, transmitía obras instrumentais para órgão sem ter anotado nenhuma das respectivas transcrições.

A realização das "Quatro Estações" em orgão era portanto já sem tempo, já que o órgão com o seu enorme volume de entoação (maior do que uma orquestra de sinfonia) e os seus milhões de variadades de timbre se adapta perfeitamente para essa finalidade.

Os cenários de Natureza descritos por Vivaldi nos seus poemas, e os efeitos interpretados para dentro das suas obras, evidenciam-se mais com o órgão do que com uma orquestra de instrumentos de corda.

Pensemos só no canto dos passaros e nas gaitas de foles em "Primavera", de relampagos e trovões em "Verão", as cornetas de caça em "Outono" e as gotas de agua e o tilintar do gelo em "Inverno".

Assim transmitiu-se uma obra de barroco, com descrições de Natureza do stilo classico-romântico, como se conheçe de Beethoven e Liszt, com nova "instrumentação" para o órgão.

Pode assim um amante de Vivaldi estranhar as "Quatro Estações", ou talvez pôr a obra num relevo totalmente novo.

O grande interesse revelado nas apresentações mostrou, que com esta experiência tornou-se possivel, para além dos conhecedores, ganhar um novo auditório para o órgão.

Detlef Steffenhagen

1º Concerto: "A Primavera"
Allegro Chegada é a primavera. Em festa,
as aves a saúdam com alegre canto
e as fontes, ao rondar de Zefiro, brisa de Oeste,
fluem murmurando suavemente. Enquanto isso,
O céu vem se cobrindo de negro manto.
Relâmpagos e trovões previnem os interessados.
Contudo, passados esses prenúncios,
as aves voltam ao trinar canoro.
Largo Então, sobre mimoso e florido prado,
Ao murmúrio meigo de plantas e ramos,
dorme o pastor, seu fiel cão ao lado.
Allegro Ao som festivo de flautas, ninfas dançam,
e o pastor descansa sob o teto amado,
de um céu azul brilhante de primavera.
2º Concerto: "O Verão"
Allegro  Na dura estação do sol ardente,
sofre o homem, sofre o animal e o pinho arde ao sol
O cuco solta sua voz e logo, juntando-se
entoam o pombo e o rouxinol.
Zefiro passa suave. Mas, de repente,
Borea, vento de leste, cai sobre seu vizinho.
O pastor chora, porque pressente:
metem-lhe medo a feroz borrasca
e também seu próprio destino.
Adagio Preocupam-no seus membros lassos,
o temor de relâmpagos e trovões horríveis
e de moscas e mosquitos o furioso enxame.
Presto Pois que seu temor é adequado e é fundado.
Troveja e relampeja o céu;
e o granizo quebra hastes de grãos e espigas.
3º Concerto: "O Outono"
Allegro Os aldeões festejam com dança e canto
da feliz colheita o belo encanto
E do licor de Baco inflamados tantos
terminam em sono sua diversão.
Adagio Por cansaço terminam danças e cantos.
O ar ameno da estação que dá prazer,
também revela a doçura do sono.
Allegro Os caçadores, na manhã seguinte vão à caça
com trompetes, escopetas e cães.
Foge a caça, seguem-lhe os rastos.
Já esgotada e desgastada pelo grande barulho
de escopetas e cães, ferida, a caça empaca, enfrenta
Mas esgotada de fugir, morre vencida.
4º Concerto: "O Inverno"
Allegro Inverno é tremer, agachado, na neve gelada
ao sopro severo do vento mordente.
É correr batendo os calcanhares a todo momento.
Por excesso de frio, batendo os dentes.
Largo É sentar ao fogo, quieto e contente,
enquanto a chuva lá fora molha centenas.
Allegro É caminhar sobre o gelo, a passo lento.
Porquanto o temor de cair supera o intento.
Depois acelerar, escorregar, cair no chão.
Tornar a caminhar sobre o gelo e correr forte
sem que o gelo rompa, mas suporte.
É ouvir, atrás de reforçada porta,
Siroco, Borea e todos os ventos em guerra.
Inverno é isto, contanto que traga satisfação.
  Tradução: João José Klein

25.11.2007